Não tão doce Juliete

Não tão doce Juliete

quarta-feira, março 29, 2017

CANETA-NAVALHA




Escrever algo que preste não é fácil, mas não se trata de qualidade.  O que escrevo agora , escrevo por não conseguir ordenar o que se passa na mente, enlouquecer-me-ei  por não ter ninguém para quem contar.
Escrevo com a caneta-navalha na mão. Sou cão que ladra e não morde, e quando ataco percebo logo no instante seguinte que mordi meu próprio rabo.
Olhar turvo, sangue subindo e adocicando minha boca. Como um beijo dela? Não, da outra.
Beijo com gosto de cigarro, tabaco, fumaça, cramulhão compactado em 80mm.
Escrevo com o maço-maçarico na mão, o café, escudo, na mesa. Escrevo não sobre ciúmes, amor, ou paixão, escrevo sobre a égide da solidão.
Solidão de quem escreve e não tem como escrever sem que a caneta-navalha lhe dilacere a carne, o corpo.
A cada vírgula um corte, a cada ponto uma gota de sangue no chão.

Ao final do dia, sem cigarro, sem café, sozinho no escuro, me faltam pele e órgãos para escrever, pois a caneta-navalha já cortou tudo: coração, perna, mente, costas, e cortou sobretudo, e principalmente, as minhas duas mãos.

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