Escrever algo que
preste não é fácil, mas não se trata de qualidade. O que escrevo agora , escrevo por não
conseguir ordenar o que se passa na mente, enlouquecer-me-ei por não ter ninguém para quem contar.
Escrevo com a
caneta-navalha na mão. Sou cão que ladra e não morde, e quando ataco percebo
logo no instante seguinte que mordi meu próprio rabo.
Olhar turvo,
sangue subindo e adocicando minha boca. Como um beijo dela? Não, da outra.
Beijo com gosto
de cigarro, tabaco, fumaça, cramulhão compactado em 80mm.
Escrevo com o
maço-maçarico na mão, o café, escudo, na mesa. Escrevo não sobre ciúmes, amor,
ou paixão, escrevo sobre a égide da solidão.
Solidão de quem
escreve e não tem como escrever sem que a caneta-navalha lhe dilacere a carne,
o corpo.
A cada vírgula um
corte, a cada ponto uma gota de sangue no chão.
Ao final do dia,
sem cigarro, sem café, sozinho no escuro, me faltam pele e órgãos para
escrever, pois a caneta-navalha já cortou tudo: coração, perna, mente, costas,
e cortou sobretudo, e principalmente, as minhas duas mãos.
Nenhum comentário:
Postar um comentário